Charges: memórias desenhadas da política eleitoral nos anos 1960
Em diálogo com o dossiê temático desta edição, a Revista do Arquivo revisita o acervo de ilustrações do Arquivo do Estado e faz um recorte com foco no tema “Eleições”, trazendo, um dos mais conhecidos e apreciados recursos gráfico-narrativos: a charge.
De origem francesa o termo “charge” traz em si toda a carga da palavra “exagero”, cumprindo seu papel de criticar fatos e personagens com a sutileza aguçada do humor, representando-os à sua maneira, sugerindo, por meio de seus traços argutos, leituras e interpretações, promovendo a assimilação instantânea do leitor.
A leitura e a compreensão de uma charge estão diretamente ligadas ao conhecimento dos acontecimentos atuais tanto a nível nacional como internacional, para que, ao observar a imagem, o leitor possa estabelecer uma lógica entre ela e as informações lidas, pois a charge está vinculada a um fato ou a um personagem, no aqui e agora, tornando-se, com o passar do tempo, importante documento histórico.
(…) a charge tem um aspecto crítico mais visível, ela não tem sutilezas e pode ser agressiva. Geralmente, a charge se baseia em um acontecimento real, em fatos que envolvem polêmicas. Charges políticas e de crítica social nem sempre vêm carregadas de humor. A caricatura ou a charge política podem extrapolar a questão do humor e passar uma mensagem ideológica, defendendo um ponto de vista.
NOGUEIRA, 2016. p.207 1
Na trajetória da história da imprensa periódica brasileira, as imagens se fazem presentes desde o século XVI e alcançaram destaque a partir de 1808, quando foi criada a Imprensa Régia. Nesse momento, os periódicos passam a valorizar o humor como ferramenta de crítica política e social para atrair seus leitores e deixar explícita sua opinião.
Nos anos 1960, recorte no qual estão inseridas as imagens aqui expostas, a charge tem como foco a política interna e externa, gastos governamentais, crise econômica, o presidente e os candidatos à sucessão presidencial, dos quais destacam-se Jânio da Silva Quadros, candidato à presidência pela oposição, eternizado com a vassoura nas mãos, símbolo de sua proposta governamental.
A galeria traz os trabalhos dos chargistas do Jornal Última Hora, nomes como Egberto, Cantalice e Fritz entre outros anônimos, mas de traços não menos significativos, que ao longo dos anos 1960, foram destacados formadores de opinião, convidando a todos a uma imersão nas singulares imagens que nos fazem refletir sobre o exercício da democracia na boca das urnas.
Essas e outras imagens do Catálogo de ilustrações do Fundo Última Hora, podem ser visitadas no link: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/web/digitalizado/iconografico/ultimahora_ilustracoes
1 NOGUEIRA, Natania A. Silva. A História Política do Brasil por Meio da Charge (1950 – 1964) (Dossiê História em Quadrinhos: Criação, Estudos da Linguagem e usos na Educação). Revista Temporis [Ação] (Periódico acadêmico de História, Letras e Educação da Universidade Estadual de Goiás). Cidade de Goiás; Anápolis. V. 16, n. 02, p. 205-222 de 469, número especial. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/temporisacao/article/view/4657/3774. Acesso em 2/5/2022.