Memória do Mundo: Luiz Gama no Arquivo

Presença do advogado abolicionista, jornalista, editor e servidor público Luiz Gama no acervo do Arquivo do Estado é considerada patrimônio da humanidade ao ganhar da Unesco o selo “Memória do Mundo”
NOVIDADE DE DEZEMBRO DE 2024
Conjunto: Luiz Gama no Arquivo
Fundo/Coleção: Fundo Secretaria de Governo da Província de São Paulo, Coleção Hemeroteca APESP e Coleção Hemeroteca IHGSP (Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo)
Códigos de Referência: BR SP APESP SEGOVP, BR SP APESP HEMAPESP e BR SP APESP IHGSPCOM HEMETECA
Novidade: registro regional no programa Memória do Mundo, da Unesco
Novidade
Um conjunto difuso de documentos que marcam a presença de Luiz Gama no acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo (APESP) foi considerado patrimônio da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, na sigla em inglês). Esta é a sexta documentação do APESP laureada com o selo do programa “Memória do Mundo” pois já existem outros quatro conjuntos com registros nacionais e um na esfera internacional. Desta vez o prêmio foi concedido na última reunião do Comitê Regional para América Latina e Caribe do programa (MoW-LAC) e anunciado ainda em dezembro no website da Unesco. A iniciativa da submissão integra o programa “Presença Negra no Arquivo”, que engloba uma série de ações articuladas sobre o tema no atual plano plurianual do APESP.
Fonte: 27 novas inscrições no Registro da Memória do Mundo da UNESCO para a América Latina e o Caribe | UNESCO
Biografia
Nascido em Salvador (BA) em 1830 como homem livre, filho de pai branco e mãe negra, Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi vendido como escravizado pelo próprio pai para pagar dívidas. Gama passou pelo Rio de Janeiro, mas foi em São Paulo onde recuperou a liberdade, foi alfabetizado e começou a trabalhar na polícia. Tentou cursar Direito no Largo São Francisco, mas após ser rejeitado pelos colegas da elite paulistana, passou a estudar de forma autodidata. Atuou como copista, escrevente e amanuense, conhecendo por dentro a burocracia administrativa e judiciária. Foi autorizado por um juiz a advogar e começou a agir nos tribunais, entre outras causas, pela libertação de pessoas escravizadas e a arrecadar fundos para a compra da liberdade (alforria) daqueles cuja escravização ilegal não poderia ser comprovada. Foi um dos advogados mais bem pagos de São Paulo na segunda metade do século XIX. Escreveu colunas em jornais da época, publicou seu próprio jornal, sob pseudônimo. Autor respeitado, foi um pensador do Brasil pró-republicano ainda nos tempos finais do Império. Morreu em agosto de 1882, alguns anos antes de ver a abolição da escravatura e a República formalmente proclamadas em nosso país.
O acervo
O conjunto recém registrado como Memória do Mundo compreende documentos da tipologia textual, entre exemplares de jornais e um livro/encadernado de manuscritos. Da parte impressa, são 232 textos que retratam a atuação do abolicionista Luiz Gama, a maioria de autoria do próprio, publicados entre 1830 e 1882 em 12 periódicos, que fazem parte tanto da coleção Hemeroteca APESP como da coleção Hemeroteca IHGSP (Instituto Histórico Geográfico de São Paulo), atualmente custodiada pelo Arquivo do Estado. Já o livro/encadernado de matrículas de africanos emancipados de 1864, único manuscrito da coleção com redação e assinatura de Gama, faz parte do fundo da Secretaria de Governo da Província, assim como outros documentos da polícia da época. Conforme descrição na candidatura ao selo Memória do Mundo, toda essa documentação custodiada pelo Arquivo do Estado “evidencia a existência de quilombos na cidade de São Paulo e o papel da população negra escravizada e livre no desenvolvimento e manutenção da infraestrutura da cidade e do Estado”. A militância e o pensamento de Luiz Gama são registrados principalmente por sua presença na imprensa, destacando-se em negrito alguns jornais que tiveram contribuição de Gama por longos períodos, com textos assinados pelo próprio ou utilizando pseudônimos. como Afro, Getulino e John Brwn:
- Diário de São Paulo (ago-set/1866) [IHGSP]
- Correio Paulistano (dez/1866-dez/1874) [APESP]
- O Ypiranga (ago/1867-abr/1869) [IHGSP]
- Democracia (dez/1867-fev/1868) [IHGSP]
- Radical Paulistano (jun-nov/1869) [IHGSP]
- A República (dez/1871-nov/1873) [APESP]
- O Polichinello (jun-dez/1876) [APESP]
- A Província de São Paulo* (jan/1877-abr/1881) [APESP]
- Gazeta do Povo (jan/1880-nov/1881) [IHGSP]
- Gazeta de S. Paulo (jan-fev/1881) [IHGSP]
*atual o Estado de São Paulo
Todos os jornais desse conjunto passaram por tratamento de catalogação, sendo que algumas edições já foram digitalizadas com reconhecimento ótico (OCR), facilitando o acesso público (alguns disponíveis online no acervo digital) e preservando os exemplares originais da consulta física. Qualquer cidadão pode consultar a disponibilidade de acesso presencial de acordo com a integridade do exemplar. Ao submeter a proposta, o APESP se comprometeu a desenvolver um plano de digitalização de todo esse conjunto, um plano de conservação e outro de respostas a desastres naturais. Na página específica sobre essa coleção no site do programa Memória do Mundo da Unesco, em inglês ou espanhol é possível conferir o formulário de inscrição, na íntegra.
Saiba mais
Pesquise diretamente os jornais mencionados ou busque por termos de seu interesse na plataforma AtoM “Arquivo Público Digital”, onde fica disponível o acervo digital do APESP que já recebeu tratamento arquivístico: https://atom.arquivoestado.sp.gov.br/
Confira a matéria publicada na seção Vitrine da Revista do Arquivo, na edição n. 5 (Arquivos e Direitos Humanos), na época da concessão de mais um registro nacional de um conjunto do APESP (Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos) no programa Memória do Mundo da Unesco, além dos outros conjuntos que já estavam inscritos com registros nacionais (Secretaria de Governo da Capitania de São Paulo, o jornal abolicionista “A Redempção” e os livros de registro/matrícula da Hospedaria de Imigrantes), e com registro internacional (Arquivo do DEOPS-SP integrante da rede de informação e contrainformação do governo militar no Brasil).
Memória do Mundo da Unesco e o fundo da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos – Revista do Arquivo
Destaques
Confira abaixo vídeos de algumas palestras realizadas pelo Arquivo sobre Luiz Gama e seus registros no nosso acervo.
3/11/2015 – Ligia Fonseca Ferreira/Unifesp
Lições de “Resistência”: o ativismo de Luiz Gama na imprensa paulista pré-abolição
Seminário A Imprensa Abolicionista Paulista
5/12/2023 – Bruno Rodrigues de Lima/Max Planck Institut
Luiz Gama no Arquivo: métodos e resultados de pesquisa
O trecho final da palestra, disponível na íntegra acima no Youtube, foi um bate-papo com o Diretor do Arquivo, Thiago Nicodemo, que também pode ser ouvido como episódio de podcast:
Link do episódio: https://open.spotify.com/episode/78GbW49Ve6JXGVh4f1VMNC
16/5/2025
Luiz Gama – Evento em comemoração ao Prêmio Memória do Mundo da Unesco