Uma infância que liberta?

Estratégias de emancipação das mães de ingênuos nos tempos da Lei do Ventre Livre. São Paulo, 1871-1888

Autores

  • Clara Gouraud Université Paris Diderot (Paris 7)

Palavras-chave:

mães escravas, ingênuos, abolição gradual

Resumo

A partir do estudo de processos judiciais acionados por mães de "ingênuos" - crianças livres nascidas de mães escravas após a Lei do Ventre Livre, de 1.871 - contra seus antigos senhores, a fim de recuperar a guarda de seus filhos, este artigo mostra a importância da questão da proximidade das crianças na concepção da liberdade das mães escravas e libertas no contexto da abolição gradual da escravidão. A análise destas fontes judiciais permite mostrar que essa lei, que visa abolir progressivamente a escravidão no Brasil pela libertação dos filhos das mulheres escravas, é usada de modo ambivalente, por mães escravas e libertas que reivindicam seus direitos, por um lado, e por seus antigos senhores, por outro lado, com uma dimensão particular na cidade de São Paulo. Apoiadas por advogados abolicionistas, essas mulheres reivindicam sua plena liberdade pedindo a guarda de seus filhos ingênuos, enquanto que seus antigos senhores reagem para assegurar, por meio da lei, sua dominação sobre esses mesmos ingênuos, no processo de se tornarem futuros cidadãos brasileiros no período que antecedeu a abolição de 13 de maio de 1888.
Artigo original em língua francesa publicado na revista Problème d”Amérique Latine, nº 108, 2018/1, disponível em: https://www.cairn.info/revue-problemes-d-amerique-latine-2018-1.htm
Artigo derivado de dissertação de mestrado pela Université Paris Diderot, de setembro de 2017. 

Biografia do Autor

Clara Gouraud, Université Paris Diderot (Paris 7)

Mestre pela Université Paris Diderot. Email: clara.gouraud.r@hotmail.fr

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Publicado

2018-10-31

Como Citar

Gouraud, C. (2018). Uma infância que liberta? Estratégias de emancipação das mães de ingênuos nos tempos da Lei do Ventre Livre. São Paulo, 1871-1888. Revista Do Arquivo, (7), 52–66. Recuperado de https://revista.arquivoestado.sp.gov.br/ojs/revista_do_arquivo/article/view/134