Intérpretes no Podcast: Geografia da presença negra na cidade, com Amanda de Lima Moraes

A Revista emplaca mais um episódio no Podcast do Arquivo. Desta vez a gravação se insere no contexto da seção Intérpretes do Acervo. O editor Flávio Ricci Arantes entrevista a geógrafa, professora e pesquisadora Amanda de Lima Moraes, personagem desta seção na edição nº 15 da Revista, dedicada ao tratamento arquivísticos de documentos cartográficos, de engenharia e arquitetura.
A conversa tem foco na sua trajetória de investigação nos Arquivos, especialmente em mapas, mas também no diálogo com documentos textuais e iconográficos, relacionados à presença de populações negras na cidade de São Paulo entre fins do século XIX e início do século XX.
“A toponímia foi me levando para esse lugar que eu pesquiso hoje. Porque a partir do nome das ruas que percebemos a tentativa de apagar a memória de determinados grupos. Gosto do exemplo da Rua XV de Novembro: eu descobri pelos mapas que ela já se chamou Rua da Imperatriz e antes ela se chamava Rua do Rosário, por conta da Igreja de Nossa Sra. do Rosário, que foi demolida no contexto de urbanização, de uma ideia de modernização da cidade que privilegiava determinados grupos no começo do século XX.”
A entrevista também aborda a relação entre ser professora e pesquisadora, o interesse pelas toponímias1 dos mapas, dificuldades de pesquisar durante a pandemia, a riqueza da interação com equipe de atendimento, a resistência negra encontrada nos registros da Irmandade do Rosário (dos Homens Pretos) no centro de São Paulo, os esforços dos comerciantes brancos para expulsar os vendedores ambulantes e quitandeiras, entre outras “ameaças”.
“Eu encontrei vários abaixo-assinados que pediam ao Estado que esses vendedores ambulantes ‘deixassem de existir’, exatamente esse termo é utilizado. E tem um fator racial nisso, porque a maior parte desses trabalhadores eram pessoas negras.”
Amanda traça um guia de fontes consultadas no Arquivo do Estado (Comissão Geológica e Geográfica, Cia. Cantareira, Coleção IHGSP), no Arquivo Histórico Municipal (relatórios dos prefeitos, licenças de vendedores, apreensões etc. ), no Instituto Moreira Salles (pinturas e fotografias) no Acervo do Estadão e no Arquivo Nacional; e ainda apresenta os principais resultados da sua pesquisa, com destaque para um inédito mapa da presença negra no centro da cidade há 100 anos, e termina com dicas (e estímulos) de pesquisa em arquivos para geógrafos e estudantes de geografia. Vale a pena escutar cada detalhe!
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- Toponímias são palavras ou expressões que designam lugares geográficos, como ruas, cidades, rios, montanhas e outros elementos naturais ou construídos pelo homem. Esses nomes são muito mais do que simples rótulos; eles carregam histórias, traços culturais e referenciais geográficos importantes para a compreensão de uma localidade. ↩︎